Os Melhores Discos dos Anos 80 - Fernando Magalhães (2ª metade: 1985-1989)



E aqui está o artigo correspondente à segunda metade, publicado no Blitz (no tempo em que ainda era jornal), na edição de 23-01-1990, na rubrica "Valores Selados".


O BALANÇO FINAL
Depois dos primeiros cinco anos conclui-se nestes «valores» o balanço final dos melhores da década. A partir de 85 houve ainda mais discos a merecerem toda a nossa atenção e aplauso. Poucos os terão notado. Não faz mal, eles (os discos) continuam à espera de quem os souber merecer. Muitos dos nomes citados permanecem num injusto quase anonimato. Mas são eles que fizeram e fazem o melhor da história da música dita popular.

Novamente por ordem alfabética, eis a relação dos vinte melhores para cada ano:

1985
Alésia Cosmos: Aeroproducts (Pop minimalista francês).

Andrew Poppy: The Beating of Wings (Minimalismo outra vez, desta vez do sério. Mais electrónico do que a concorrência).

Art Barbeque: Feet Hacked Rails (Música industrial para Sado-masoquistas).

Benjamin Lew & Steven Brown: À Propôs d’un Paysage (Paisagens ambientais em aguarela, cheias de pormenores).

Biota: Vagabones & Rockabones (Compêndio definitivo da arte do ruído).



Einstuerzende Neubauten: Halber Mensch (Os martelos-pilões finalmente domesticados).

Foetus: Nail (Viagem guiada ao Inferno).

Kalahari Surfers: Living in the Heart of the Beast (Su-africanos vanguardistas e intervencionistas).

Laibach: Nova Akropola (Neo-nazis ou brincalhões? Wagner, se fosse vivo, aprovaria).

Legendary Pink Dots: Asylum (Hippies disfarçados, clássicos, bizarros, transtornados).

Mathilde Santing: Water Under the Bridge (Pura magia. Nunca mais fez nada igual).

Michael Nyman: A Zed and Two Naughts (Novos labirintos para a fita de Greenaway).

Nico & The Faction: Camera Obscura (Requiem final pela senhora de negro).

Nurse With Wound: The Sylvie and Babs High-Thigh Companion (Stephen Stapleton é louco e gosta de misturar todos os sons, todas as músicas, todas as manias. Stephen é um génio, só que doutro mundo).

Peter Principle: Sedimental Journey (O lado mais experimental dos Tuxedomoon).

Regular Music: Regular Music (Repetitivos e barrocos. Discípulos de Nyman com Charles Hayward ao comando).

Severed Heads: Clifford Darling, Please don’t Live in the Past (Obras mestra dos terroristas australianos. O terror pode ser engraçado).

Urban Sax: Fraction sur le Temps (Os saxofones do Apocalipse).

Wondeur Brass: Ravir (Três senhoras canadianas que aprenderam muito com Carla Bley).

Zoviet France: Gris (O cimento é musical? Resposta: Nesta caso é).

1986
Cassiber: Perfect Worlds (Free jazz + Beethoven + ruído, por Heiner Goebbels e Chris Cutler).

Conrad Schnitzler & Michael Otto: Micon in Italia (Fusão entre a electrónica e instrumentos de orquestra).

Daniel Schell & Karo: If Windows They Have (Expoente máximo da nova música de câmara europeia).

David Garland: Control Songs (Canções, sampling exaustivo, acordeão, voz de «Crooner», Zorn, C. Marclay e G. Klucevsek como convidados. Chega?).

David Linton: Orchesography (As tácticas de Elliott Sharp aplicadas à electrónica).

Elliott Sharp: Virtual Stance (As tácticas dele próprio aplicadas ao computador).

Godard Fans: Godard, Ça vous Chante? (Homenagem ao cineasta com interpretações brilhantes de Zorn, Lindsay, Clint Ruin (Foetus) e Amati Ensemble, ente outras).

Graeme Revell: The Insect Musicians (Inteiramente realizado com samples de sons dos ditos, pelo mentor dos SPK. Brilhante).

Holger Hiller: Oben im Eck (Opus 2 da bíblia do «sampling»).

John Zorn: The Big Gundown (Obra-prima absoluta pelo mestre da rapidez. Tudo encaixa no lugar certo, como nos desenhos animados. Só para ouvidos ultra-ágeis).

Kraftwerk: Electric Cafe (disco típico do séc. XXII).Laurie Anderson: Home of the Brave (Laurie antes do grande pecado).

Nurse With Wound: Spiral Insana (mais contemplativo e perturbante que «Sylvie»).

O Yuki Conjugate: Into Dark Water (Electrónicos e sombrios. Jon Hassell teve um pesadelo).

Poules (Les): Contes de l’Amère-Loi (As mesmas senhoras dos Wondeur Brass brincando aos computadores).

SPK: Zamia Lehmani (Songs of Byzantine Flowers) (A Música religiosa dos discípulos das trevas).

Steve Beresford, David Toop, John Zorn, Tonie Marshall: Deadly Weapons (Quatro excêntricos unidos na produção de um filme imaginário superinspirado. Ponto de fuga das mais recentes tendências do Jazz (?) actual).

Steve Reich: Sextet/Six Marimbas (Cristal minimal).Sussan Deyhim & Richard Horowitz: Desert Equations: Azax Attra (as vozes do deserto encontram os sintetizadores).

Test Dept: Unacceptable Face of Freedom (O Ocidente infernal)

e ainda:
Bruce Gilbert: The Shivering Man; Camberwell Now: The Ghost Trade; Collectif Nox: Sessions 84/86; Derome/Lussier: Soyez Vigilants, Restez Vivants; Harold Budd: Lovely-Dusks; Jon Hassell: Power Spot; Masahide Sakuma: Lisa; Neo Museum: Nouvelles Ethnologies de L’Obscure Museum; Orthotonics: Luminous Bipeds; Peter Hammill: Skin; PFS: Illustrative Problems; Semantics: Rothenberg, Sharp, Bennett; Skeleton Crew: The Country of Blinds; Recoil: 1+2; The The: Infected; Tom Van Der Geld: Small Mountain.

1987
Arthur Russell: World of Echo (com pouco se faz muito, uito, uito...).

Art Zoyd: Berlin (O disco da década. A síntese perfeita. Encontro da Tradição com o Futuro num disco perfeito).

Derome/Lussier: Le Retour des Granules (Nova colaboração entre os sopros de Derome e a guitarra Frithiana de Lussier).

Double-X-Project: Fallobst (grupo alemão feminino de Jazz electrónico minimalista ou lá o que isso é).

Elliott Sharp: In the Land of the Yahoos (Sharp goes Electropop? Quase!... O seu disco mais acessível, com a voz de Sussan Deyhim).

Jocelyn Robert: Stat-Live-Moniteur (Colagens. Ruído. Ambiental. Étnico. Electrónico. Lembram-se dos Faust?).

John Zorn: Spillane (Banda sonora de filme negro a 78 rotações).

Lounge Lizards: No Pain for Cakes (John Lurie volta a atacar o Jazz com unhas e dentes. Os puristas não gostam).

Negativland: Escape from Noise (Os rapazes da Contracosta americana voltam a baralhar tudo de novo. Paranóico, diferente, divertido).

Popular Mechanics: Insect Culture (A vanguarda soviética nos desvarios de Sergei Kuriokhin, ainda não se falava da Perestroika).

Renaldo And The Loaf: The Elbow is Taboo (Discípulos dos Residents, como estes divertidos e esquisitos).

Robert LePage: La Traversée de La Mémoire Morte (Sintetizadores analógicos, manipulação de fitas à antiga, sopros ora swingantes ora fragmentados. Excelente e genuinamente original).

Robert Musci & Giovanni Venosta: Water Music on Desert Sand (A Música de todos os mundos. A síntese de todas as tradições. A mistura de todos os sons. Genial).

Scott Johnson: John Somebody (Guitarra e colagens sem tesoura. Filho do casamento entre Steve Reich e Laurie Anderson antes do pecado).

Slagerij Van Kampen: Out of the Doldrums (Inteiramente realizado com samples de percussão).

Startled Insects: Curse of the Pheromones (Funky para mentes muito, muito distorcidas).

Teargarden: Tired eyes Slowly Burning (Projecto de E. Ka-Spel dos L.P. Dots e Cevin Key, dos Skinny Puppy).

Wondeur Brass: Simoneda, Reine des Esclaves (das Canadianas apreciadorad de jazz e «Chanson Française»).

Wayne Horvitz: This New Generation (Costuma tocar com Zorn mas este disco nao tem nada a ver. Pop-Jazz, talvez?...)

e ainda:
Andrew Poppy: Alphabed (a Mystery Dance); Bourbonese Qualk: Bourbonese Qualk; French, Frith, Kaiser & Thompson: Live, Love, Larf & Loaf; Jazz Passengers: Broken Night/Red Light; Kahondo Style: Green Tea and Crocodiles; Legendary Pink Dots: Any Day Now; Mark Stewart: Mark Stewart; Meredith Monk: Do You Be; Nimal: Nimal; Philip Perkins: Hall of Flowers/The Flame of Ambition; Steven Brown: Searching for Contact; Yasuaki Shimizu: Music For Commercials.

1988
Ben Neill: Mainspring (Trompete traficado em fundo minimalista).

Bobby Previte: Claude’s Late Morning (Mais um músico ligado a Elliott Sharp, desta vez o percussionista).

Coil: Gold is the Metal (As magias invertidas em tons classizantes).

David Borden/Mother Mallard: Migration (Um dos nomes fundamentais da nova escola minimalista americana).

David Fulton: Marcos & Harry, pt. 3 – Semi Trilogy (Serrotes e computadores no novo tribalismo eléctrico).

Delerium: Faces, Forms & Illusions (Arabizantes, ambientais e ameaçadores).

Elliott Sharp: Larynx (Nova Iorque histérica).Fred Frith: The Technology of Tears (A tecnologia da complexidade).

Jon Hassell/Farafina: Flash of the Spirit (A música do Burkina Faso accionada por botões e enfeitada com trompete).

Lights In A Fat City: Somewhere (Didgeridoo digital em música para aborígenes sofisticados).

Mikel Rouse Broken Consort: A Lincoln Portrait (Outro dos nomes importantes do minimalismo americano).

Motor Totemist Guild: Shapuno Zoo (Rebuscados, Perfeccionistas, tocam tudo e mais alguma coisa. Inclassificáveis).

Non Credo: Reluctant Hosts (os medos infantis. O papão. Estes alemães parecem inocentes mas tocam-nos o cérebro como se fôssemos bonecos).

Pere Ubu: The Tenement Year (Regresso em forma do gordo mais simpático do mundo em novos exercícios de contorcionismo vocal).

Recoil: Hidrology (Kraftwerk, versão esotérica).

Robert Musci & Giovanni Venosta: Urban and Tribal Portraits (O título diz tudo).

Steve Moore: A Quiet Gathering (O mistério das catedrais. Um dos lados é apelidado de «Música de câmara para sons ambientais»).

Test Dept.: Terra Firma (Depois do metal a Terra, os cânticos guerreiros e a gaita-de-foles).

Univers Zero: Uzed (Os belgas discípulos dos Magma continuam a tarefa de dar um rosto solene à velha Europa).

When: Death in the Blue Lake (O líder dos Holy Toy inspira-se na obra do seu compatriota, o escritor Henrik Ibsen, agarra em samples do «Tristão e Isolda» de Wagner e constrói um disco estranhíssimo e grandioso).

e ainda:
Heiner Goebbels & Heiner Muller: Der Mann im Fahrstuhl; Jazz Passengers: Deranged and Decomposed; Jocke Soderqvist: Perma Blue; Last Exit: Iron Path; Luciano Margorani: Home Recording is Killing Studios; John Surman: Private City; Peter Blegvad: Downtime; President: Bring Yr Camera; Uludag: Mau Mau; 5UU’s: Elements.

1989
Agnes Buen Garnas/Jan Garbarek: Rosensfole (A voz celestial de Agnes leva-nos direitinho ao Céu).

Barry Adamson: Moss Side Story (O ex-Magazine numa obra heterogénea em tons de negro e sangue).

Charles W. Vrtacek: When Heaven Comes to Town (O que Eno poderia ter feito mas não fez. O que Satie faria se fosse vivo e utilizasse um sampler em vez do piano).

David Byrne: Rei Momo (Onde se prova que as boas saladas devem levar salsa).

Edward Ka-Spel: Perhaps We’ll Only See a Thin Blue Line (Edward mais experimentalista do que nos Legendary).

Einstuerzende Neubauten: Haus der Luege (Os niilistas berlinenses mais virulentos do que nunca).

Fred Frith: The Top of his Head (Aproveito para dizer que, para mim, é Frith e não Zorn, o músico da década. Zorn é o segundo… Está feita a correcção).

Glenn Branca: Symphony N.º 6-Devil Choirs at the Gates of Heaven (Não sei quantas guitarras fazem a festa e o rugido do costume).

Hector Zazou: Géologies (música clássica erudita que Zazou é gente séria).

Invaders Of The Heart: Without Judgement (Oriente vs, Ocidente em guerra religiosa instigada por Jah Wobble).

Laurie Anderson: Strange Angels (Laurie Pop, a grande pecadora…).

Lounge Lizards: Voice of Chunk (O sax emblemático da Nova Iorque underground).

Michael Nyman: The Cook, The Thief, His Wife & Her Lover (De novo juntos, Nyman e Greenaway. Como sempre obcecados pela morte e desta vez também pela comida).

Philip Glass: 1000 Aeroplanes on the Roof (Ou mudava ele ou nós). Felizmente, mudou ele. Ou será que fomos nós?...).

Robert Merdzo: Darwin Waltzes (Da mesma escola que Branca).

Seigen Ono: Comme des Garçons, vols. 1 & 2 (Da New Age dos primeiros tempos passou para companhia de Frith, Zorn, Frisell, Lindsay, Lurie e por aí fora. Sim, os referidos tocam todos neste disco).

Stan Ridgway: Mosquitos (O melhor contador de histórias da América, a par de Tom Waits. Como este também das vozes mais originais).

Steve Tibbetts: Big Map Idea (o misticismo ECM por um dos melhores guitarristas da casa).

Worlds Of Love: The Worlds of Love (Depois de canções sobre o poder, David Garland regressa cantando o amor em todas as suas variantes. Apaixonado ou não, mantém-se tão excêntrico como nunca).

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